Completando a Corrida

Jan 23, 2022    Mariana Merotto

1 Timóteo 4:7-8

Introdução
“Quanto a mim, minha vida já foi derramada como oferta para Deus. O tempo de minha morte se aproxima. Lutei o bom combate, terminei a corrida e permaneci fiel. Agora o prêmio me espera, a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, me dará no dia de sua volta. E o prêmio não será só para mim, mas para todos que, com grande expectativa, aguardam sua vinda”

Essa carta foi escrita por Paulo a Timóteo enquanto ele (Paulo) aguardava sua execução, após ter sido preso por causa do Evangelho. É interessante observar o tom um pouco triste, mas principalmente convicto do apóstolo. O que levou Paulo, mesmo em face a morte estar tão seguro? O que fez com que esse homem parecesse esperançoso? Meu desejo hoje é que tentemos captar o coração de Paulo em suas palavras finais e possamos aprender com ele o privilégio de viver uma vida pronta a ser entregue como sacrifício por Cristo, firmados na esperança de sua justiça e na convicção de nossa missão.

1 – Minha morte se aproxima
A proximidade da morte certamente traz um peso diferente para as palavras de qualquer um. Com Paulo não é diferente. Saber que ele estava sendo condenado e não morrendo de causas naturais muda a forma como lemos as suas palavras. Diferente do que esperamos geralmente, o apóstolo não está reparando erros, ou demonstrando arrependimento do que havia feito com sua vida.
Paulo tinha certeza que sua vida havia sido derramada totalmente como um sacrifício a Deus. Note que ele não diz que será derramada, fazendo referência a morte. Ela diz que ela já foi derramada. A decisão de se tornar um sacrifício a Deus não foi tomada por Paulo apenas em sua condenação, ou nem mesmo imposta a ele por causa dela, ela foi tomada por ele por muitos anos, sempre que sua escolha estava entre sua própria vida, conforto, comodidade e servir ao Senhor.
Isso nos inspira, mesmo que circunstâncias muito mais amenas do que as enfrentadas por ele, a escolher o chamado de Deus acima de nossas vontades. Uma vida de entrega total a Deus não é um dever apenas dos mártires, mas um chamado a todos os cristãos. A caminhada da fé é repleta de escolhas, nós decidimos qual será nosso parâmetro para fazê-las.
Não estou aqui falando de uma vida de sofrimento, não creio que Deus nos imponha uma vida de sofrimentos. Estou falando de uma rendição sacrificial. A verdade é que não há maior gozo para o homem do que viver rendido a vontade Deus. A verdadeira alegria está em perder sua própria vida (cheia de si mesmo) e encontrar a de Cristo.
“Se tentar se apegar à sua vida, a perderá. Mas, se abrir mão de sua vida por minha causa, a encontrará. Que vantagem há em ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida? E o que daria o homem em troca de sua vida?” Mateus 16:25-26
Se cremos que Ele é um bom Pai e que seu amor por nós nunca nos lidera a algo que nos prejudique, sabemos que os sacrifícios necessários para viver em sua vontade podem até causar desconforto ou dor momentâneas, mas nos levam a viver o tipo de vida que não resulta em confissões de leito de morte, mas em uma carta cheia de inspiração para aqueles que ainda estão combatendo o bom combate.

2- Lutei o bom combate, terminei a corrida e permaneci fiel.

O que sempre me chamou atenção aqui é a linguagem ativa de Paulo. Suas expressões estão ligadas a competição esportiva, seja ela uma luta ou uma corrida. E essa não é qualquer tipo de competição, mas um “bom combate”, do tipo que vale a pena ser lutado.

A vida cristã não é passiva. Nós não aceitamos Jesus e passamos a navegar calmamente em um barquinho que nos levará ao desejo Dele para nós. Ela é um combate, não no sentido de uma guerra, mas de uma atividade que exige de nós perseverança, domínio próprio, iniciativa.

Eu amo aquela música que diz “A minha vida é do mestre, meu coração é do meu mestre”, mas isso diz respeito a uma rendição completa ao plano de Deus para nós e não em vagar despretensiosamente por um mar, sem consciência do destino e do que devemos fazer para alcancá-lo. Isso não é navegar, é estar a deriva.

Mas isso não contraria a graça? Não! Nós não podemos fazer absolutamente nada para merecer o amor de Deus e alcançar sua misericórdia, mas é nossa a decisão o que faremos com esse favor tão imerecido, como usaremos essa capacitação sobrenatural do Espírito.

N.T Wright diz: “Assim como a lógica do amor, é o mesmo com a lógica do trabalho para Deus no poder do espírito: Deus tem a iniciativa, e continua a ser a fonte última de energia, mas o cristão é chamado e dele é requerido trabalhar duro com essa energia”

Tão pouco estou falando de uma vida ativista, mas sim da vida que fomos chamados a viver, em santidade, compromisso com a Palavra e com a comunidade local, tendo relacionamentos saudáveis e profundos.


3- A recompensa esperada

Paulo nos fala de um prêmio, que agora o aguarda. Estamos acostumados a pensar que não devemos esperar recompensas quando falamos de um trabalho para Deus. Mas, a verdade é que até Jesus trabalhou por uma recompensa. A palavra nos diz que foi a alegria proposta diante dele que o suportou a cruz, e ela também está cheia de promessas de recompensas (Colossenses 3:23-24; Hebreus 11:6 e diversas vezes no sermão do monte Mateus 5).

Então a ideia de recompensas é extremamente bíblica. Agora, é preciso entender que se temos uma recompensa, é porque temos um trabalho, uma responsabilidade e Paulo sabe que cumpriu a sua com integridade e esforço. Nossa recompensa, no entanto, não é física ou financeira, mas eterna e espiritual. “Quando amamos alguém, parte da recompensa é a alegria de fazer coisas com e para essa pessoa, e ser amado por ela”.

O texto faz ainda uma analogia entre essa recompensa e um justo juiz. É interessante observar que isso faz um paralelo com sua condição, aonde ele foi julgado por alguém injusto e então condenado. Nossas recompensas estão baseadas na prestação de contas que daremos a esse Juiz, e muitas vezes, assim como Paulo, para obedecer a ele será necessário ir contra a opinião dos juízes dessa era.

Se observarmos o texto, essa coroa, o prêmio que Paulo fala, possui ainda dois aspectos. Ela será dada a ele no dia da volta do Senhor e que todos que ama a Sua vinda também podem ter a esperança de receber essa mesma coroa. O apóstolo está aqui nos encorajando a olhar nossa vida com uma perspectiva eterna. Todo sacrifício desta vida, todo o esforço que empregamos em permanecer na vontade de Deus, não é em vão.

O tipo de vida que temos agora, as escolhas que fazemos, cada sim e cada não que damos está construindo também a vida eterna que viveremos. Paulo nos mostra que a esperança na volta de Jesus, o clamor Maranata nos instiga a ter uma esperança eterna de uma coroa de justiça nos dada pelo próprio Deus.


CONCLUSÃO

Ter clareza da recompensa e de como você deseja terminar sua vida, nos leva a ser fieis em nossas decisões hoje.