Páscoa: Memória e Herança
Introdução
Nessa próxima semana vamos comemorar a Páscoa, uma data extremamente importante para o
calendário cristão e que fala da base da nossa fé. No entanto, poucas pessoas tem um entendimento
correto sobre essa celebração, sobre o poder dos acontecimentos que celebramos e de como eles
estão impressos do início ao fim das escrituras.
1 – A primeira páscoa, a sombra do porvir
Mesmo quando há um certo entendimento sobre a Páscoa, poucos sabem que essa celebração tem
origem na libertação do povo hebreu do Egito. A primeira vez que vemos esse nome sendo utilizado
na bíblia está em Êxodo 12:11, aonde o Senhor dá diversas instruções a Moisés, que deveria rapasálas ao povo, ordenando que um cordeiro fosse morto, seu sangue deveria ser colocado sob as portas,
e assim o povo foi poupado da praga e liberto do poder e da opressão dos egípcios.
Essa era uma celebração inegociável e perpétua para o povo judeu, pois se constitui em um
prelúdio, que apontava para o messias. Ela deveria ser passada de geração em geração, para que
todos se lembrassem do livramento dado por Deus. Ao passar essa celebração as futuras gerações,
Deus estava também preparando seu povo para a compreensão de seu plano redentor.
2 – O tabernáculo e o templo – Sacrifício limitado
Após a libertação, o povo segue sua peregrinação pelo deserto. Ali o Senhor propões uma aliança
com eles e os instrui na construção de um tabernáculo, aonde seriam realizados rituais de adoração,
purificação e consagração. Logo que é erguido, a glória e a presença de Deus enchem o lugar e ali é
o local aonde sacrifícios são feitos para remissão de pecados e a maneira pela qual Deus habitava no
meio de seu povo.
Existem muitos detalhes a respeito desse tabernáculo que apontam mais uma vez para o plano de
Deus de justificar e santificar seu povo e de então habitar com eles. De maneira bastante resumida,
ali, eram oferecidos sacrifícios em favor do povo, de maneira a haver purificação de pecados e
possibilitar a morada de Deus entre o povo.
3 – Jesus – O cordeiro de Deus
Nós podemos observar que o conceito de sacrifício de um ser puro, para remissão dos pecados (que
é o que no separa de Deus) e a intenção do Senhor de habitar e se relacionar com seu povo são uma
constante em toda a história humana.
Vemos as pistas da justificação na Páscoa hebraica e no templo porque o plano de redenção não é
uma ideia nova de Deus. Ele estava presente desde o princípio, como vemos em Gênesis 3:15. Deus
não está brincando de comandar o mundo. Ele está escrevendo uma história eterna e a redenção está
nela porque o propósito dessa história sempre foi relacionamento entre a humanidade e o Criador
Jesus nasce marcado pela missão de ser o salvador que a humanidade tanto precisava.
“2
Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos
viram a tua salvação, A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar
as nações, E para glória de teu povo Israel.”
Lucas 2: 29-32
Na inauguração de seu ministério público, antes de ser chamado de Mestre, Senhor ou profeta,
Jesus é reconhecido como cordeiro de Deus.
“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira
o pecado do mundo.”
João 1:29
Dentro do imaginário judaico, sabemos a força dessas palavras. O plano de Deus avançava, e a
salvação definitiva, constituída desde o princípio estava se manifestando. Era chegado o cordeiro
imaculado, que pagaria o alto preço por nossa redenção. Esse é ainda, uma manifestação eterna de
quem ele é.
“e cantavam em alta voz: "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza,
sabedoria, força, honra, glória e louvor!"
Apocalipse 5:12
Até esse ponto na história, Deus usa de tipos para ensinar o povo e profetizar sobre seu grande
plano de nos unir de maneira definitiva. O Senhor, mostrava ao povo a necessidade de um redentor,
que fosse apto a pagar por nosso resgate, e eliminar a necessidade de um sacrifício recorrente, nos
unindo novamente ao Pai através de seu sangue.
A páscoa hoje é o momento em que lembramos e celebramos o amor e o poder de Jesus, nos
tornamos mais conscientes da paixão Dele por nós e do seu comprometimento com o plano do Pai.
Essa época deve nos levar a refletir, compreender e receber aquilo que foi demonstrado e
conquistado por nós através da vida do cordeiro de Deus. A obra de Cristo nos mostra dois pontos
fundamentais.
4 – A crucificação do filho de Deus – O amor sacrificial que nos livra da condenação
Não é a toa que a cruz é o principal símbolo da fé cristã. Ela é ponto primordial da nossa fé. Ao
passo que esse tenha sido talvez o dia mais sombrio da história, ele foi também, até o presente
momento o dia mais revolucionário que tivemos. Nós poderíamos aqui ficar lendo, nos
emocionando e tentando formar um filme em nossa mente sobre como tudo se desenrolou.
Mas eu quero falar sobre a diferença da crucificação de Jesus. Jesus não foi o primeiro homem
crucificado, tão pouco o único. Mas ele é o Deus que se fez homem, sujeitou-se as nossas tentações
e venceu todas, sem pecado. Jesus se fez o cordeiro imaculado.
“Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês
foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus
antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem
defeito.”1 Pedro 1:18-19
“E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte
de cruz.” Filipenses 2:8.
Jesus assumiu a culpa por nossos pecados, recebendo a punição que nos era devida. E através de seu
sacrifício, fomos declarados inocentes.
“Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos
justiça de Deus.” 2 Coríntios 5:21
O sacrifício de Jesus foi o único capaz de nos limpar verdadeiramente, de maneira que não
necessitamos mais de sacrifício de animais, já que a dívida da humanidade não poderia ser expiada
por animais. Era necessário que alguém, sem pecado se colocasse na brecha.
“(...) fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez
por todas.Dia após dia, todo sacerdote apresenta-se e exerce os seus deveres religiosos;
repetidamente oferece os mesmos sacrifícios, que nunca podem remover os pecados. Mas
quando este sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à direita de Deus.” Hebreus 10:10-12
Deus não estava manifestando com isso algum tipo de desejo sádico, mas na verdade exercendo
seu caráter de justo juiz, e ao mesmo tempo revelando ao mundo a grandeza de seu amor
“Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha
coragem de morrer.Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais
ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele” Romanos 5:7-9
5 – A ressureição – Vida presente, esperança futura
Mas a páscoa não trata apenas da lembrança do sacrifício de Cristo. Se tivesse apenas morrido,
Jesus poderia ser tido apenas como mais um agitador, auto proclamado messias, que se tornou um
mártir, semelhante a tantos outros que surgiam naquela época. Jesus não só enfrentou a morte, ele
venceu a morte.
“Ele foi entregue conforme o plano preestabelecido por Deus e seu conhecimento prévio
daquilo que aconteceria. Com a ajuda de gentios que desconheciam a lei, vocês o pregaram na
cruz e o mataram. Mas Deus o ressuscitou, libertando-o dos horrores da morte, pois ela não
pôde mantê-lo sob seu domínio.”
Atos 2:23-24
O plano de Des não termina com a morte, porque ao passo que seu sangue apagou nossa dívida, sua
ressureição nós faz nascer para uma nova vida. Paulo chega a dizer que nossa fé, sem a firme
convicção da ressureição de Cristo é vã. A ressureição nos dá acesso a uma nova vida em Deus,
dessa vez não mais escravos do pecado, mas livres para uma vida em santidade.
“Todo louvor seja a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Por sua grande misericórdia, ele
nos fez nascer de novo, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”
1 Pedro 1:3
“nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de
iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros,
a Deus, como instrumentos de justiça.”
Romanos 6:13
“Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos
nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus.”
Colossenses 3:1
Nessa era, a ressureição é para nós o testemunho do poder de Deus, e o poder que nos faz nascer de
novo para uma nova vida. É na ressureição de Cristo que temos a garantia da capacitação para viver
uma vida reta diante do Senhor.
No entanto, assim como Jesus não foi o único a ser crucificado, ele também não foi o primeiro ou
único a ressuscitar. O próprio Jesus ressuscitou seu amigo Lázaro e uma menina. Mas a ressureição
de Cristo é diferente, pois Ele ressuscitou de uma vez por todas, e nunca mais morrerá. Da mesma
forma, Ele nos confere essa esperança, que em sua vida seremos ressuscitados de uma vez por
todas, e com corpos glorificados não veremos mais a morte.
A ressureição é o grande ponto de virada na história da humanidade, sua volta é o desfecho
triunfante que aguardamos, a satisfação de nossa esperança em ver Cristo de uma vez por todas
colocar seu último inimigo debaixo de seus pés, e acabar de vez com a morte.
‘Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos
os homens. Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que
dormem. Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição
dos mortos .Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão
vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os
que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e
Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque
convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a
ser destruído é a morte.
1 Coríntios 15:19-26
Páscoa e escatologia estão intimamente ligados, porque essa memória da ressureição não só nos
possibilita uma vida que honre ao Senhor agora, mas produz a esperança de uma recompensa eterna
da ressureição e comunhão completa com Deus. Celebrar a páscoa é reconhecer o que já recebemos,
corresponder ao amor e firmar-se na esperança vindoura.
Conclusão
É importante que a natureza de Cristo e de seu ministério sejam bem estabelecidos em nós,
porque há um esforço secular tremendo para minimizar o papel de Cristo na história e diminuir as
repercussões espirituais e eternas de sua vida aqui na terra.
Querem tirar o poder da figura de Jesus, porque é impossível apagar sua figura histórica. Querem
transformá-lo em um pacifista, uma espécie de justiceiro social, porque assim simpatizamos com
ele, mas não somos livres das amarras do pecado e ficamos conformados a uma vida entregue aos
nossos próprios prazeres. Ele é o cordeiro de Deus, deu sua vida por nossos pecados e ressuscitou
através do poder do Espírito para nos capacitar a uma nova vida, semelhante a Ele e nos fornecer
uma inabalável esperança eterna.
Essa história vem sendo escrita pelas mãos de um bom Pai, que sempre desejou união plena com
seus filhos. Ela começa com parceria no Éden, possui uma linda reviravolta de redenção, amor e
poder e termina com uma vida eterna de comunhão entre nós e Ele. Deus tem um plano, uma bom
plano de nos fazer habitar juntos, em harmonia com toda criação. Ele não se esqueceu ou desistiu
dele, mas está completamente comprometido em formar em nós Cristo, até que todas as coisas
sejam re-estabelecidas eternamente.
Que a Páscoa seja para nós um memorial do que já foi feito e um sinal do que há de vir.