Recompensas Eternas de um Reino Invisível

May 8, 2022    Mariana Merotto

Quando o Felipe me pediu para pregar no dia das mães, fiquei pensando em se eu queria falar algo relacionado a maternidade. Isso porque, apesar de desejar honrar as mães e o maternar, eu fiquei me perguntando se isso seria proveitoso para toda a igreja.
Criar filhos talvez seja a tarefa ordinária que mais nos ensina sobre o resiliência, que nos faz ter uma noção do amor do Pai por nós e que nos faz amadurecer.

Mesmo assim, eu não tinha certeza se esse foco seria um ensino, e não só um discurso bonito, ou um tapinha nas costas de todas as mães. Eu queria, e quero que seja mais que isso. Então eu senti o Senhor me lembrar da primeira coisa que Ele começou a trabalhar em mim depois que me tornei mãe. Não é um verso sobre a mulher virtuosa ou como Deus não se esquece de nós, mesmo que uma mãe que amamente o faça. É algo que o maternar escancarou pra mim, mas que deve estar gravado profundamente em cada um de nós, que decidiu abraçar uma vida com Jesus.

" Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas."
2 Coríntios 4:18

1 – Um Reino invisível, nossas tarefas e nosso valor
O Reino espiritual é mais real do que qualquer coisa que estejamos vendo nesse momento. Embora não possamos ver com nossos olhos naturais (pelo menos não o tempo todo e não a maioria de nós), ele existe, é dinâmico e afeta diretamente nossa vida agora.

Jesus nos diz que Ele não pertence a esse mundo. Em sua oração em João 17 ele fala que está no mundo, mas não é do mundo. E também nos garante que nós não somos daqui.

“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou.” João 17:14-16

Quando recebemos Jesus, nós nos assentamos com Ele nas regiões celestiais e nos tornamos cidadãos do Reino de Deus, que não é um Reino palpável a nós agora. Mas, nossos corações muitas vezes ainda estão contaminados com os conceitos e com a maneira como o mundo que se vê funciona.

Quando me tornei mãe, fui confrontada com um trabalho que parecia ao mesmo tempo interminável e invisível. Não existe glamour em trocar fraldas sujas, passar a noite em claro e cheirar a leite azedo. E Deus bondosamente me mostrou como estar nesse lugar me esvaziou de todo meu senso de valor. Isso porque eu colocava meu valor no que eu realizava e que era mensurável (muitas vezes monetariamente) segundo os padrões de um Reino visível, ao qual eu não pertencia mais.

Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.”

Nós passamos muitas vezes, nossos dias correndo atrás do vento, buscando lugares altos, conquistas materiais porque ainda não compreendemos a que tipo de Reino pertencemos, quem somos e nosso valor eterno.
Nosso coração está endurecido pelas demandas daquilo que vemos, e orar nos parece infrutífero, uma perda de tempo, porque é interagir com uma realidade invisível. Nós deixamos que o quanto ganhamos, que carro andamos, o nível de nossa influência, quantos livros lemos, quanto de teologia eu sei, quantas pessoas eu lidero e mais um monte de coisas sem sentido, e não o preço que foi pago por nós dite o quão precioso eu sou.

Isso afeta diretamente nosso cotidiano, porque estabelece aonde estão os meus olhos, aonde eu dispendo minha energia e meus recursos. Se estou olhando apenas para aquilo que eu vejo, qual a possibilidade de crer no impossível? Se meus olhos só alcançam aquilo que é palpável, o que acontece comigo se os acasos da vida me fizerem perder tudo? Se eu valho enquanto eu produzo de maneira monetária mensurável, quanto eu valho quando estou em casa cuidando de um bebê? Qual o valor de passar tempo com meus filhos, orar, jejuar, servir alguém que não pode me dar nada em troca?
Podemos ir ainda mais profundo. O Reino invisível funciona de maneira completamente oposta ao visível. Vamos ler Marcos 8:33-35
“ E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho?Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior.E ele, assentando-se, chamou os doze, e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos.”
Essa nova dinâmica que entramos ao escolhermos Cristo funciona quase de cabeça para baixo. O primeiro é o último, o maior é o menor, o que mais serve o mais exaltado, a verdadeira vida vem de morrer. Quando minha perspectiva se baseia no que eu não posso ver, eu entendo que uma hora gasta em oração pode produzir muito mais do que uma hora de trabalho. Quer dizer que eu posso orar o dia todo e não trabalhar nunca mais? Quem dera! Mas quer dizer que em meu espírito eu vivo um realidade invisível que confia em Deus e prioriza as coisas de maneira correta.
Estar com os olhos focados apenas no que eu podia ver me fez sofrer muito nos meus primeiros meses como mãe porque meu valor era abalado cada vez que alguém me perguntava sobre minha carreira, ou quando eu não podia participar de uma reunião de líderes. Quando a Vivi não estava perfeitamente arrumada ou quando as 18:00 eu ainda não tinha conseguido tomar banho, eu não me sentia produtiva ou valiosa o suficiente.
Os padrões de sucesso dessa era, podem nos conduzir a uma vida completamente infrutífera no Reino espiritual. Nós não pertencemos a esse lugar visível apenas. Embora estejamos aqui, nossa confiança deve estar naquilo que não se vê, só assim seremos capazes de enfrentar com alegria os desafios desse mundo. Paulo, antes desse verso está falando aos Coríntios sobre o conflito entre o que vemos e o que não vemos.
“ Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;”
2 Coríntios 4:8-10
O valor de Paulo, antes completamente pautado em coisas visíveis, foi completamente transformado e se tornou preso nas coisas invisíveis.
“embora eu mesmo tivesse razões para ter tal confiança. Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais:circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de

Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu;quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo.Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo” Filipenses 3: 4-8
Viver para esse Reino, olhando para o que não podemos ver produz também um tipo diferente de recompensa, as recompensas eternas.
2 – Um Reino eterno e suas recompensas que não se corroem
“Não ajuntem tesouros aqui na terra, onde as traças e a ferrugem os destroem, e onde ladrões arrombam casas e os furtam. Ajuntem seus tesouros no céu, onde traças e ferrugem não destroem, e onde ladrões não arrombam nem furtam. Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração” Mateus 6:19-21
Todo esse capítulo de Mateus poderia ser lido dentro desse assunto. Aqui, na continuação do sermão da montanha, Jesus está instruindo os ouvintes a olhar além do que se pode ver, e toda essa porção de seu sermão trata de um comportamento que não entendeu a dinâmica de um Reino invisível e a superioridade de suas recompensas que são eternas.
Jesus diz nesse mesmo capítulo no verso 5:

É um modo de pensar completamente diferente, como Romanos 12 diz:
Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de orar em público nas
sinagogas e nas esquinas, onde todos possam vê-los. Eu lhes digo a verdade: eles não receberão
outra recompensa além dessa” Mateus 6:5
Todas as auto recompensas dessa vida irão passar, mas as eternas não podem ser corroídas. Elas
são inestimáveis porque não se adequam aos padrões dessa época. Esse tipo de recompensa não
costuma nos trazer fama ou prestígio (que era o objetivo daqueles que oravam alto), e na verdade
muitas vezes podem nos trazer dolo agora.
“Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os
transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês” Romanos 12:2
Esse mundo vive por recompensas imediatas. O Felipe trabalha com finanças e vê isso
diariamente. Mas isso não está relacionado apenas a recompensas materiais, mas também aquilo
que alimenta nosso ego, nosso desejo por ter sucesso de acordo com os padrões desse século.
Nossa mente funciona sobre bases desalinhadas com as verdades da palavra nesse aspecto. Que
convite preciso aceitar? De quem preciso ser amigo? Planejamos cada oração que vamos fazer no
microfone, pra que ela seja polida o suficiente. Quando buscamos galardão agora, A bíblia nos
garante que é isso que teremos. Existe porém, uma realidade superior.
Isso tem tudo a ver com criar filhos, porque nossas recompensas eternas geralmente são plantadas
no céu em nossa vida ordinária. Criar filhos na presença de Deus por um exemplo pode ecoar por
toda eternidade. Muitas outras coisas de valor eterno são encontradas no ordinário, e é até difícil
para nós, com uma mentalidade tão materialista e imediatista ver o valor dessas coisas. Mas nossa
fidelidade no devocional, nossa excelência no trabalho, nossa compreensão com as limitações do

irmão, nossa diligência no casamento, o perdão que extendemos, todas essas coisas produzem
peso de glória.
Voltando ao texto do princípio, Paulo diz:
“Por isso, nunca desistimos. Ainda que nosso exterior esteja morrendo, nosso interior está sendo renovado a cada dia. Pois estas aflições pequenas e momentâneas que agora enfrentamos produzem para nós uma glória que pesa mais que todas as angústias e durará para sempre” 2 Coríntios 4:!7-16
A busca por recompensas eternas muitas vezes não só não nos dá coisas que podemos ver, mas muitas vezes resulta em algo que é oposto aos frutos que são valorizados na visão secular. Em muitos casos, colhemos agora angústias, questionamentos, desaprovação para receber uma glória eterna de estar com o filho de Deus.
Conclusão
Quando entendemos o valor do que é invisível, nos tornamos mais interessados em produzir tesouros eternos do que em nos firmarmos em qualquer outra coisa. Entender o Reino em que vivemos e sua dinâmica oposta a essa era, aonde está nosso valor e o que precisamos construir produz em nós um coração ancorado na eternidade.
Estamos sempre apressados e nos sentimos atrasados porquê valorizamos demais o pequeno tempo nesse mundo findável e o sucesso que ele diz que precisamos ter. Mas sucesso no Reino é medido de uma maneira completamente oposta. Sucesso no Reino não é até aonde eu cheguei, o nível da minha influência, o carro que eu ando, sucesso no Reino é medido por quanto eu obedeci.
(minha experiência)
A Bíblia diz que a pela alegria proposta diante dele Jesus enfrentou a cruz. Jesus estava olhando para recompensa eterna de um Reino sem fim em família. Nós queremos esse mesmo coração, para um dia recebermos, junto Dele nossos tesouros eternos.